Por Ângela Guimarães
Estes últimos dois anos de convivência e sofrimento com a pandemia do Covid-19 foram marcados por muitas perdas de vida, adoecimentos, perdas de emprego, de renda, instabilidade emocional, insegurança quanto ao futuro dentre outras situações. Os impactos no segmento artesanal não foram diferentes. Convivendo com as necessárias medidas de restrição social e com a suspensão de atividades presenciais de qualificação, cadastramento, emissão das Carteiras Nacionais de Artesãs e Artesãos, o fechamento de lojas e, sobretudo, a suspensão de feiras locais e nacionais e outros espaços de comercialização da produção, artesãs e artesãos viveram tempos de dificuldade, empobrecimento e incertezas quanto ao futuro.
O Governo da Bahia, no entanto, desde o início da pandemia tomou medidas no sentido de preservar as vidas, investiu na saúde e buscou ações para minorar os impactos da Pandemia nos setores mais vulneráveis. De nossa parte, na Coordenação de Fomento ao Artesanato da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), em parceria com a Associação Fábrica Cultural, a estratégia foi transpor para o ambiente digital as ações que anteriormente funcionavam presencialmente e adiar ações presenciais com circulação de pessoas como a realização de feiras, de pesquisas de campo e outras para um futuro desejado com a pandemia sob controle. Assim, ações cotidianas adentraram o ambiente virtual, como as qualificações e a avaliação dos produtos para emissão das Carteiras de Artesão, as inscrições para certificação de origem do artesanato baiano, Selo Artesanato da Bahia, o diálogo com entes municipais responsáveis pelas políticas públicas de artesanato, as Rodadas de Negócios do Artesanato da Bahia, a curadoria para incorporação de produtos nas duas Lojas do Artesanato em funcionamento intermitente àquela altura em Salvador, os cursos de qualificação para a gestão dos empreendimentos de artesãs e artesãos. Todas essas medidas foram tomadas no sentido de não interromper o fluxo de atendimento às demandas do segmento, adaptando à nova realidade.
2021 foi, para nós, um tempo de esperançar. Pensando em dias melhores, além de adaptar nossas ações ao ambiente virtual, não deixamos de planejar ações e prospectar condições para que, a partir do avanço da vacinação e da retomada gradual e responsável das ações presenciais, pudéssemos apresentar um cronograma de atividades capaz de reativar e reanimar o segmento duramente impactado com as consequências do imbricamento das crises sanitária e econômica.
Assim, desenhamos e realizamos um conjunto de ações que se iniciou pela ampliação da visibilidade do artesanato produzido por grupos e artesãs(ãos) de povos e comunidades tradicionais e a abertura de um novo espaço de comercialização do Artesanato, a loja Artesanato da Bahia, no Salvador Shopping. Nos meses de abril e maio, realizamos duas exposições no Centro de Comercialização do Artesanato da Bahia que tiveram grande visibilidade e expressão: a mostra Abril do Artesanato Indígena com produções dos povos Kiriri e Tuxá, do município de Banzaê e no mês seguinte, a mostra Artesanato da Capoeira: ancestralidade e resistência, onde, de forma inédita no Brasil, concedemos a titulação de Mestres Artesãos da Capoeira aos mestres Olavo e Lua Rasta.
Alinhadas às ações da Economia Solidária no mês de junho, fizemos parte da elaboração e construção da programação do Festival de Economia Solidária – São João da Minha Terra, que aconteceu integralmente em ambiente virtual, mesclando atividades de comercialização de produtos da economia solidária e artesanato, oficinas de formação e atividades culturais.
Nos meses de julho e agosto, de forma inédita, promovemos uma potente ação de qualificação voltada à gestão dos empreendimentos artesanais com o Curso Qualificar para Empreender, 100% virtual por nosso canal no Youtube e aulas em televisão aberta, pelo canal da cidadania, a TV Kirimurê. Tratou-se de um curso com 10 módulos e 80 horas de duração, com temas voltados à gestão do artesanato, em que certificamos 311 artesãs e artesãos de mais de 110 municípios. Foi uma ação completamente exitosa, pois contou com mais de 80% de aprovação em todos os aspectos da avaliação do curso e menos de 15% de evasão.
Asseguradas pelo avanço no processo de vacinação no estado da Bahia, em agosto também, iniciamos o primeiro ciclo das Feiras Regionais Artesanato da Bahia que percorreram até o mês de outubro, sete cidades do interior do estado (Aratuípe, Lençois, Jacobina, Vitória da Conquista, Juazeiro, Cachoeira e Itacaré), atingindo um raio de mais de 100 municípios e envolvendo como expositores mais de 200 artesãs e artesãos do estado, gerando renda e permitindo escoamento e visibilidade da produção artesanal do estado. Esta ação movimentou quase R$200 mil em comercialização do artesanato e representou um formato seguro de realização de atividades presenciais pelo Governo do Estado.
Ainda em setembro, outra grande ação de comercialização mobilizou e movimentou o segmento, a realização da Rodada de Negócios em parceria com o Sebrae/Bahia ocasião em que mais de 60 artesãos apresentaram seus produtos e realizaram negócios com lojistas e compradores de várias partes do país, totalizando mais de R$350 mil em vendas e encomendas.
Como parte das ações de impulso à comercialização e ampliação da visibilidade do Artesanato da Bahia, participamos de três Feiras Nacionais do Artesanato, em outubro, o 14º Salão Nacional Raízes Brasileiras em Brasília, em dezembro em Belo Horizonte, a 32ª Feira Nacional do Artesanato Rotas do Brasil e também em dezembro a tão aguardada e festejada 21ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte). Considerando os impactos da pandemia no setor, de forma inédita, o Governo do Estado apoiou a viagem das artesãs com viabilização de suas passagens e hospedagens nas três feiras. Tivemos como resultado ampliação do quantitativo de artesãs e artesãos participando destes espaços nacionais, mais visibilidade do artesanato do nosso estado e um volume de vendas representativo, apesar da grave crise econômica que se abate sobre o Brasil.
Concluímos o ano, realizando no âmbito do Novembro Negro, a Mostra Dilenga: Artesanato das Coroas de Rainha do Afro Bankoma que trouxe ao Centro de Comercialização a beleza e a história da escolha das Rainhas deste bloco, a construção do seu vestuário e elaboração de coroas por meio de várias técnicas artesanais que ficou aberto à visitação por dez dias. Já em dezembro, no apagar das luzes do ano intenso e desafiador que foi 2021, concedemos a certificação de origem aos produtos do artesanato baiano com a entrega do Selo Artesanato da Bahia a e 39 produtos de 15 artesãs e artesãos avaliados positivamente pelo comitê de certificação do Selo. Dezembro assistiu ainda ao lançamento do Edital de Chamamento Público Nº 007/2021, com o objetivo de selecionar Organizações da Sociedade Civil – OSCs interessadas em celebrar Termo de Colaboração para execução do projeto Qualificação Profissional e Fortalecimento de Grupos Produtivos, Associações e Cooperativas do Artesanato de Povos e Comunidades Tradicionais, ação esta possível graças ao financiamento do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FUNCEP).
Por tudo isso, e outras ações que não couberam neste texto, podemos considerar 2021 como o ano da retomada do Artesanato da Bahia concebido como instrumento de afirmação da nossa identidade cultural, geração de trabalho e renda e superação das desigualdades.
Que 2022 seja pleno de saúde, mais criatividade e capacidade de realização de ações para o fortalecimento do artesanato baiano!
*Ângela Guimarães é coordenadora Estadual de Fomento ao Artesanato