O som que vinha do forno anunciava que o calor havia atingido o calor necessário. Mestre Almerentino sabia que o segredo de uma peça resistente começava ali, na queima precisa. “A cerâmica bem queimada resiste. É saber queimar, no grau certo. Isso faz toda a diferença”, explica. No entanto, o que mais o distingue não é apenas a técnica, mas sua capacidade de enxergar formas onde ninguém mais vê. “Olho para o céu, vejo uma nuvem, desenho e transformo aquilo em uma peça. Minha inspiração vem da natureza, do espiritual.”
Almerentino destaca a importância de dominar as técnicas de queima para garantir a resistência das peças. “é porque a peça sendo bem queimada pegando grau certo, ela resiste, tem que saber queimar”. Ele utiliza uma técnica tradicional, que aprendeu observando os oleiros mais experientes, “encostava a palha em cima do forno”, para controlar a temperatura da queima e obter o resultado desejado.
Almerentino aprendeu cedo, sob a orientação dos pais, a modelar o barro. Desde cedo, já produzia peças maiores e, pouco depois, criou seu primeiro cuscuzeiro, que surpreendeu a família. Ele desenvolveu uma linha própria de luminárias e peças decorativas que são muito procuradas. “Trabalhei só por encomenda, e o pessoal não conseguia copiar minha linha. É algo único, que exige dedicação.”
Maragogipinho é tanto sua fonte de inspiração quanto seu refúgio. “Quando viajo e retorno, sinto o clima diferente. É um paraíso.” Ele acredita que o lugar tem algo especial, um magnetismo que atrai visitantes e artesãos. “O porto, a brisa, as famílias que chegam. É tudo maravilhoso. Aqui temos variedade e criatividade.” Entre suas criações mais marcantes, ele destaca um jarro que surgiu de um acidente no torno, uma peça que aparentemente teria saído errada: “A peça entortou, cortei e ajustei. No final, virou um jarro com uma rosa no bojo. Quando mostrei, alguém pediu p ara eu não quebrar . Era uma pe ça divina, c omo tantas outras que faço.”
Para ele, ser artesão é mais do que um trabalho; é uma forma de contar histórias. “Cada peça tem sua própria jornada, e cada vez que alguém leva algo daqui, leva também um pedaço de Maragogipinho. É isso que torna nosso trabalho especial.”