O som da roda do torno era familiar, constante, como um mantra que acompanhava os dias de Mestre Toddy. Ele recorda que no início, o barro machucava suas mãos e fazia doer os seus pulsos. Da produção de pequenas panelas às peças utilitárias e decorativas, seu trabalho sustentou a família, moldando não apenas o barro, mas também a própria vida.
O filtro de barro, peça central na produção de Mestre Toddy, representa a fusão entre tradição e saúde. “Fiz muito mesmo e não é todo mundo [que] sabe fazer também não”, revela o artesão, demonstrando o domínio de uma técnica que exige conhecimento e precisão. Ele destaca os benefícios da água filtrada no barro, “boa para não ter gastrite”, e a importância de se conhecer os diferentes tipos de argila para a confecção de um filtro eficaz. A “peça direta”, como ele a chama, exige um “barro [que] é maior” e atenção especial durante a modelagem, pois qualquer deslize pode comprometer a qualidade final do filtro. O segredo do Oleiro, segundo Toddy, está em “saber promar o barro”, percebendo a textura ideal e a aproximação da peça para evitar que o filtro fique grosso. Esse conhecimento adquirido ao longo de décadas de prática garante a produção de filtros que, além de funcionais, preservam o sabor natural da água e contribuem para o bem-estar.
Encontrar o melhor barro sempre foi mais do que uma tarefa técnica, era um ritual de conexão com a terra. Toddy sabia exatamente onde procurar, conhecendo as nuances que diferenciavam o barro vermelho, o branco e o salgado. “O segredo do barro é mineral. Ele cresce com a terra, mas se não souber tirar, não serve para nada”, explica. Para ele, o processo começava antes mesmo de tocar a argila: era preciso sondar, testar e entender o solo. “Eu chego lá e explico. Quem olha não vê nada, mas eu sei onde está. Se o barro não for do lugar certo, a peça sai torta.” Essa precisão continuava na preparação. Amassar, descansar e sentir a textura do material eram passos fundamentais para garantir que a argila se transformasse em uma peça perfeita. “Se o barro não está bem, a peça sai do torno com um lado grosso, outro fino. É o artesão que precisa dominar o material, não o contrário.” A temperatura do forno também é ressaltada pelo artesão: “O forno, se não for esquentado do jeito certo, deixa a peça mole, pesada. O segredo está no equilíbrio do calor.”
Ao olhar para o futuro, Mestre Toddy mantém uma visão realista, mas otimista. “O artesanato representa tudo na minha vida. Com ele criei minha família e formei meus filhos. O que espero é que, mesmo com as dificuldades, quem continuar fazendo, faça com cuidado.” Para ele, o ofício não é apenas trabalho, é história, cultura e resistência. Toddy relembra com saudosismo a época da “feira do Barro, que enchia de gente”. Ele organizou o evento por quatro anos, atraindo visitantes e promovendo a arte de Maragogipinho.