Mestre Nenê, um artesão de 85 anos, dedica-se à cerâmica há 7 décadas em Maragogipinho. Ele faz de tudo um pouco: quartinhas, quartiões, talinhas. Mas a peça bordada, uma peça trabalhada com flores e ramos, é sua obra-prima. “Levava um dia inteiro para fazer uma. Era demorado, mas valia a pena. Só que não tem mais aceitação. Hoje o que sai mais são as quartinhas, então eu faço o que o freguês pede.” Ele relembra a produção de peças que caíram em desuso, como o “caco de encher tapioca”, a “cacovira” e o “caco chato”, devido à falta de procura. A mudança nos hábitos de consumo e a necessidade de adaptação do artesão ao
mercado são aspectos importantes de sua experiência.
A relação com o barro e a natureza é central em sua prática. “O barro é 100% essencial. Mas vejo fazendas sendo compradas, terrenos sendo fechados, e isso preocupa. Se não cuidarmos, como vamos continuar? A lenha que usamos vem de árvores que crescem rápido, como candeia e pau-pombo. A gente aproveita o que sobra das roças, e a terra se renova, mas é preciso pensar no futuro.”
Mestre Nenê compartilha sua sabedoria com as novas gerações, tendo ensinado o ofício a mais de 20 pessoas. Ressalta que o aprendizado só depende da pessoa e que ensina “quando a pessoa quer aprender”, demonstrando a importância da iniciativa individual no processo de formação do artesão. “Ensinar depende da vontade de quem quer aprender. Se a pessoa quer, eu ensino.” Ele vê no título de mestre um reconhecimento, mas mantém-se humilde frente ao reconhecimento.
Nenê relatou um episódio marcante, em que perdeu toda a sua produção devido a um temporal. Após essa perda, “botou os pés no chão e continuei”. Para ele, recomeçar faz parte. “Você levanta e segue. É assim na vida, é assim no artesanato.”Ele acredita que Maragogipinho, com seu movimento incessante de saveiros e caminhões, ainda guarda um encanto especial. “Antes, o transporte de saveiro era melhor. Hoje em dia, com caminhões, muitas peças quebram.” Apesar disso, ele segue firme, vendo seu trabalho chegar a Salvador, ao Rio de Janeiro e até à Espanha. “É um orgulho ver que aquilo que a gente faz daqui alcança tão longe.”