A mestra Enói é uma artesã que se dedica à pintura em cerâmica, com foco em peças utilitárias como panelas, bacias, moringas e fogareiros. “As pequenas peças eu ainda pego para pintar, mas as grandes eu não posso mais”. Ela descreve seu estilo como sendo marcado por traços fino, pintando com a ponta do pincel e de forma delicada. Seus desenhos preferidos são flores e palmas. Mestra Enói aprendeu este ofício a partir da necessidade que a vida lhe apresentou desde cedo:“Perdi meu pai pequena e quando eu cresci um pouquinho aos 9 anos eu já ajudava a minha mãe”, relembra a artesã, emocionada. Na fase adulta, além do trabalho na olaria, ela recorda que foi também merendeira escolar, sempre buscando sustentar a família. “Eu trabalhei nas Olarias, cuidava de filho, de sete filhos que eu tive, cuidava das coisas de casa e era merendeira da escola, fazia um bocado de coisa”.
As memórias da artesã trazem com saudade recordações sobre a Feira dos Caxixis. Enói descreve a feira como um evento grandioso e movimentado, com a presença de “muita gente que vinha de tudo quanto é lugar, com muitas coisas, tudo muito colorido”. A artesã vendia suas peças na Feira, das quais menciona com destaque os arranjos de bola de gude e as panelas com cachos de uva. Ela lamenta não poder mais participar, mas se alegra que sua filha, Eliane, continue a frequentar feiras de artesanato levando adiante a tradição familiar.
Sobre o processo de produção, Enói menciona dois tipos de pintura em cerâmica: a pintura com tabatinga e a pintura engobe. Ela e xplica que a tab atinga seca mais lentament e que a tinta industrial: “é uma goma que a gente tira do barro. Fica passando de um caco para outra de uma vasilha para outra para poder aquela goma s entar”. Assim dá p ara a gent e pegar para pintar”. A artesã reconhece a importância do aprendizado e da transmissão do conhecimento, mas admite que se considera uma pessoa muito tímida, o que a impediu de ministrar cursos e participar de associações ou outros grupos. No entanto, ela sempre se dispôs a ensinar pessoas próximas, como familiares e vizinhos. “Eu ensino a qualquer pessoa lá em casa, agora, agora gente de fora eu fico com vergonha”, confessa.
Enói recebeu o título de Mestre Artesã, um reconhecimento que a fez se sentir recompensada pela sua trajetória. “eu fiquei tão feliz na minha vida, tão feliz que eu nunca recebi um título nunca, foi o primeiro que eu recebi na minha vida, parecia que eu tinha ganho o mundo”. Para ela, ser uma boa artesã é saber fazer de tudo um pouco: “Uma boa artesã tem que saber de tudo, fazer um pouquinho e tudo.”