Na olaria do irmão, com o rádio tocando baixinho e tendo a calma como companheira, Mestra Nailse se concentra em sua pintura. “A mão vai levando e, quando a gente percebe, já saiu algo que nem imaginava.” Assim, ela descreve o processo de criar suas pinturas em cerâmica, um ofício que começou como curiosidade na inf ância e s e transformou em uma prátic a de mais de 40 anos.
A técnica da pintura com uso da Tabatinga exige precisão e paciência: “Primeiro, brunimos a peça com Tauá para dar brilho. Depois, aplicamos a Tabatinga, uma argila branca, usando pincéis de pelo de gato e talhas de palha de coqueiro.” Nailse prefere a pintura tradicional, de traços finos e leves, que desenham ramos e flores, adaptados ao tamanho e ao propósito de cada peça.“Olho para a peça e decido o que ela pede. É um trabalho que precisa de calma e paciência.”
Para Nailse, o artesanato é mais do que técnica; é um exercício de tranquilidade. “Esse trabalho traz paz. No mundo de hoje, com tanta correria, ele nos ensina a focar, a ter atenção.” Durante a pandemia, ela deu uma pausa para cuidar da mãe, mas o retorno ao ofício veio como uma renovação: “É um aprendizado constante. Cada vez que faço algo, aprendo mais.”
Um momento marcante de sua trajetória foi participar de um projeto há cerca de 14 anos, no qual Nailse e outras artesãs pintaram plaquinhas de papel duplex preto com Tabatinga branca, cada uma com seus próprios traços: “Foi lindo. Cada pessoa tem seu estilo, e a gente reconhece nossa pintura em qualquer lugar.” O trabalho integrou um livro sobre artesanato, o que conferiu visibilidade à sua produção.
Para o futuro, Nailse vê potencial de crescimento para o artesanato de Maragogipinho, especialmente com a evolução das técnicas e designs. “Antes as peças eram mais grosseiras, mas hoje são mais delicadas, assim como as pinturas. É um trabalho que, para quem entende, vale muito.” Ela também reconhece a importância do grupo. “Trabalhar em equipe, brincando e conversando, faz o dia passar leve e a produção crescer. É algo maravilhoso.” E assim, com traços finos e mãos firmes, Mestra Nailse continua a transformar argila em arte, enchendo de beleza e significado cada peça que sai de suas mãos.