Ricardina Pereira da Silva (1920–2024), mais conhecida como Dona Cadu, foi uma mestra ceramista, sambadeira, rezadeira e líder comunitária nascida em São Félix e radicada em Coqueiros, distrito de Maragogipe, Bahia. De origem afro-indígena, Dona Cadu iniciou sua trajetória na cerâmica ainda criança, aos 10 anos, aprendendo com uma senhora vinda do sertão baiano — e nunca mais parou.
Com mais de 70 anos de dedicação ao ofício, desenvolveu técnicas próprias e passou a produzir moquequeiras, frigideiras e panelas de alta qualidade, que abasteceram cozinhas e restaurantes por todo o estado. Seu saber ancestral, moldado no barro e transmitido oralmente, a consagrou como referência na cultura tradicional do Recôncavo.
Dona Cadu não foi apenas uma artesã: foi também sambadeira e rezadeira, guardiã de memórias e ritos que atravessam gerações. Recebeu importantes homenagens em vida, como o título de Doutora Honoris Causa pela UFBA (2021), o Prêmio Mestras e Mestres da Cerâmica pela UFRB, e o reconhecimento como “Tesouro Humano Vivo”, título inspirado pelos critérios da UNESCO.
Sua história e legado seguem vivos no Memorial Dona Cadu, em Coqueiros, espaço dedicado à preservação de suas peças, memórias e ensinamentos — um verdadeiro centro de valorização da cultura popular baiana.
Mesmo centenária, Dona Cadu seguia ativa: “Parar de trabalhar pra quê?”, dizia com orgulho. Sua obra, sua voz e seu exemplo seguem vivos na cerâmica, no samba e na fé que moldaram sua vida e sua comunidade.